segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Em 10 anos, homicídio de mulheres cresce 500% em Roraima, diz estudo

Dados fazem parte do Mapa da Violência 2015 divulgados nesta segunda.
Em 2013, último ano do estudo, estado teve taxa de 15,3 a cada 100 mil.

Emily Costa Do G1 RR
De acordo com levantamento, três em cada cinco jovens já foram agredidas (Foto: Cláudio Nascimento/TV TEM) 
De acordo com pesquisa, número de homcídios de
mulheres cresceu 343% em 10 anos no estado
(Foto: Cláudio Nascimento/TV TEM)

O número de homicídios contra mulheres cresceu 500% nos últimos dez anos em Roraima, conforme o "Mapa da Violência 2015: Homicídios de Mulheres no Brasil". O estudo, divulgado nesta segunda-feira (9), revela que entre 2003 e 2013, o número de homicídios de mulheres pulou de 6 para 36 no estado. Veja o Mapa da Violência completo.
Os dados colocam Roraima no topo do ranking de crescimento de assassinatos de mulheres no Brasil durante o período. Conforme a pesquisa, em 2003 foram 6 homicídios e em, 2013 36 casos.
Ao considerar as taxas dos estados com mais de 100 mil habitantes, Roraima também ocupa o primeiro lugar, com uma taxa de 15,3 homicídios e crescimento de 349%. O estado é seguido pelo Espírito Santo (9,3), Alagoas (8,6), Goiás (8,6) e Acre (8,3).
Na lista de capitais, Boa Vista também fica entre as três primeiras cidades onde ocorreram mais mortes. Em 2003 foram apenas quatro casos, enquanto que em 2013 foram 14. Os números representam um aumento de 250% no índice de homicídios na capital.
Mulheres negras são as principais vítimas
O Mapa da Violência também revelou que as mulheres negras foram mais vitimadas pelo crime de homicídio no período pesquisado. Entre elas também houve maior crescimento no estado. Em 2003 cinco mulheres negras foram mortas, enquanto quem em 2013, o número subiu para 14, gerando um crescimento de 180%.

Entre as mulheres brancas os índices são bem menores: em 2003 foi apenas um caso e uma década depois nenhum homicídio foi registrado. Com isso, o dado não teve nem queda, nem aumento no período analisado.
Agressores
O estudo mapeia ainda se os agressores são pessoas conhecidas ou desconhecidas das vítimas. Em grande parte do país, os principais agressores são conhecidos, o que comprova que a violência contra mulheres acontece mais frequentemente em ambientes conhecidos das vítimas.

Em Roraima, no entanto, os números não são tão diferentes: em 2013, 5.841 mulheres foram agredidas por pessoas desconhecidas, enquanto que apenas 5.815 sofreram violência por parte de conhecidos.
Ainda segundo a pesquisa, a quantidade de mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) vítimas de violência em Roraima foi 202% superior a de homens. Enquanto foram 628 mulheres atendidas em 2014, 211 homens receberam o mesmo tipo de atendimento.
O que o Governo diz
Em entrevista ao G1, a coordenadora geral de Políticas Públicas para as Mulheres, Maria Eva Barros Ferreira, disse que o estado está trabalhando para reduzir os dados e proteger a população feminina, uma vez que os altos números registrados no estado podem ser associados a falta de políticas públicas exclusivas para as mulheres.

"Penso que o que pode ter levado a esses altos números foi a falta de gestão específica para políticas públicas voltadas as mulheres. Acredito nisso, porque já existem outras instituições voltadas a isso, mas faltava um trabalho direcionado, um olhar especial para essa questão", declarou.
Em contrapartida, ela afirma que desde o início do ano, várias atividades foram iniciadas pelo governo do estado no sentido de evitar a violência contra as mulheres. Dentre elas, está a construção da Casa da Mulher Brasileira, além de melhorias nas instalações do Instituto Médico Legal (IML), onde as vítimas de violência costumam ser recebidas.
"Realizamos palestras em escolas e trabalhamos para implentar o programa 'Patrulha da Maria da Penha' que consiste em colocar tornozeleiras nos agressores e fornecer dispositivos às vítimas. Desta forma, quando houver medida protetiva, o agressor fica totalemte impedido de se aproximar da mulher, e caso o fizer, um alarme automático acionará a polícia", detalhou.
Ainda segundo Eva, com a implentação de novos mecanismos de proteção à mulher, a expectativa é reduzir os casos de violência de imediato. "Trabalhamos no sentido diminuir drásticamente esses índices no menor tempo possível", encerrou.
Mapa da Violência
O estudo é de autoria do sociólogo argentino Julio Jacobo Waiselfisz, radicado no Brasil, e analisa dados oficiais nacionais, estaduais e municipais sobre óbitos femininos no Brasil entre 1980 e 2013, passando ainda por registros de atendimentos médicos.

O Mapa da Violência é elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e o o lançamento da pesquisa conta com o apoio do escritório no Brasil da ONU Mulheres, da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) e da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) do Ministério das Mulheres, da Igualdade  Racial e dos Direitos Humanos.